24 de julho de 2011

A JSD dá voz a: Eugénio Gomes


Agradecemos a Eugénio Gomes o facto de ter respondido ao nosso apelo, o qual obviamente  não passou despercebido aos nossos olhares.
A JSD lembra que os textos que nos chegam são da responsabilidade dos seus autores. 

Sr. Eugénio Gomes tem a palavra:

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GERAÇÃO À RASCA?


Não sei o que é uma geração à rasca, quando o que vejo é um País com todas as gerações enrascadas. Mas vamos lá descodificar isto.
"Uma geração à rasca" é aquilo que os próprios intitulam de jovens com elevada qualificação, deduzindo-se que isso significa que têm um diploma pago com os nossos impostos? Não. Os que são efectivamente "qualificados" já andam por outras paragens, por cá, em armazém, só ficam os que exibem diploma. Culpa deles? Claro que não. Vamos então a isso.
No meu tempo de aldeia, como ainda agora, os lavradores, como agora os pais, sentindo que batata ou doutor compensava, a terra como as licenciaturas não chegavam para as "sementeiras. Consequência? Batata em excesso, doutores em demasia, armazéns cheios, preços de miséria, apelos ao Governo para acudirem à situação.
Leite dá dinheiro? Acabe-se com a lavoura, façam-se vacarias. Para quê trabalhar de manhã à noite se as vacas e o seu leite é que dão dinheiro? Não foi só a PAC e os Governos que fizeram desaparecer a agricultura e os agricultores. Foi a ganância do dinheiro fácil. Com um País na bancarrota, não somos o que mais dinheiro gasta no euro milhões? Porquê? Nós acreditamos mais na sorte e nas bruxas do que no saber e no trabalho.
Na educação deu-se o mesmo que na agricultura, tal como já atrás citei. Com o 25 de Abril e o acesso democrático à escola, todos os pais queriam que os filhos fossem doutores. Então os Governos viram-se na necessidade de criarem cursos para tudo, para todos e para nada - só faltou o do parafuso, como bem disse Almeida Santos. Mas isso era mau? Não. Era até muito bom. Mas, para tal, e muito antes disso, numa sociedade dita do conhecimento, onde tudo apontava e apostava na ciência como fonte alimentadora de modernos empreendedores e dos eventuais lugares de trabalho que isso traria, era mais que essencial que os Governos tivessem um plano estratégico de desenvolvimento económico nos seus vários eixos, deixando claro onde estava o mercado de trabalho, e as necessidades de formação e qualificação dos nossos estudantes, quer como quadros médios ou superiores.
Isto hoje é uma evidência mais que adquirida e uma razão mais que necessária para que os pais não sejam armazéns de filhos que se licenciam para aumentar a tal geração à rasca. Sabe-se que o mercado de trabalho absorve poucos e que estes vêm do mundo tecnológico e da inovação, isto é, quem se alimentou de "ciências" e não de "humanidades".
A actual geração de pais ainda se sente frustrada por não ser o que gostaria de ter sido e, por isso, deixa à mercê de psicólogos escolares - que por sorte arranjaram emprego - a condução e o consentimento da opção vocacional dos seus filhos, crianças de 14/15 anos. Mas cabe na cabeça de alguém com alguma experiência de vida, como era suposto ser exigido a esses senhores, o conhecimento das actuais regras para se exercer ou encontrar trabalho neste ou noutro país? Basta ao aluno saber o que gosta? Mas sabe o que quer e o que precisa para vencer na vida? Como é que os pais, que tutelam as crianças nessa idade, se podem dar ao luxo de fazer enormes sacrifícios, às vezes até passando fome, sabendo que correm o risco de estarem a contribuir para aumentar o armazém da "geração à rasca"? Contribuir para o prazer e a felicidade dos filhos, não passa por deixá-los fazer o que gostam, mas o que é necessário e desejável para que, efectivamente, venham a sê-lo. Quando tiverem autonomia, que tomem e assumam todas as opções que quiserem, enquanto educandos, que partilhem da experiência e do conhecimento de quem os cria, e lhe dá o melhor que tem e pode. Por alguma razão a vida não é uma linha recta, é uma teia de ruas, estreitas e largas, de vielas, de becos com e sem saída, e o mais feliz é aquele que traça o seu caminho em cima do dever e não do prazer. Os tempos que se avizinham, sobretudo para estas e novas gerações que já nascem sobreendividadas, não são para assalto permanente ao prazer, mas de atenção muito cuidada com o dever.
Fracos pais, más escolas, em vez de lutarem para uma grande implantação de escolas técnico profissionais na rede escolar, se acomodam às que existem para dar emprego a uns tantos professores e correspondentes cursos, mas que em nada respondem ao mercado de trabalho local e regional. Bem pior é o complexo discriminatório que se estabeleceu entre a via académica e a via profissionalizante. Querem melhor retrato do nosso atraso cultural, ele aí está. Os pais preferem ver os filhos, de canudo na mão, acampados no Rossio, a vê-los bem empregados, com a sua independência garantida, inclusive para tirarem "os cursos que mais gostarem".
Isto é o protótipo do "português" ao seu melhor nível. "Tesos, mas inchados"
Como faz falta a "Escola" a este pobre País! Como faz falta a "Escola" a este País pobre!

Este artigo não respeita o novo acordo ortográfico...nem nunca respeitará

Por: Eugénio Gomes

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